⚔️ Cripto está sob ataque
Entenda o caso do Tornado Cash, dicas pra não cair em armadilhas na cripto e atualizações sobre o Merge.
Tornado Cash e o problema da decentralização
Esse foi um mês crític pro mundo da cripto. O Tornado Cash foi alvo de um pesado conjunto de sanções nos Estados Unidos. Mas não se engane, essa ação afetou muito mais do que usuários da plataforma e nativos dos Estados Unidos, afetou todo o sistema de DeFi e revelou vários pontos de centralização de todo o ecossistema.
Uma das primeiras grandes repercussões dessa ação foi na stablecoin USDC. Com um marketcap de 53 bilhões de dólares, ela é a segunda maior stablecoin do mercado, e está entre as top 5 de todas as criptos.
A USDC é uma stablecoin centralizada, ou seja, suas operações, preço e reservas são controladas por uma empresa tradicional, a Circle. Após a aplicação das sanções ao Tornado Cash, a Circle bloqueou todos os endereços incluídos na lista de sanções. Isso significa que, os endereços colocados na lista de restrições não poderiam nem receber nem transferir USDC.
Sim, isso mesmo que você leu. Por mais que seja uma criptomoeda e esteja em uma carteira decentralizada, o código da USDC permite que a Circle bloqueie os fundos em qualquer carteira.
Esse risco não se limita ao USDC. A USDT, maior stablecoin atualmente, também tem em seu código a possibilidade de criar uma lista de endereços a serem bloqueados. Assim como wBTC, maior wrapper de BTC do ecossistema.
Um dos desenvolvedores do Tornado Cash foi preso
Uma das maiores implicações decorridas desse evento foi a prisão de Alexey Pertsev (um dos contribuidores do Tornado), na Holanda. De acordo com a investigação do país, a prisão seria por suposto envolvimento em facilitação de lavagem de dinheiro.
Esse acontecimento é absurdo em vários níveis. Como muitos membros da comunidade apontaram, se desenvolver uma ferramenta que acaba sendo usada para atividades criminosas também é crime, todo o Silicon Valey deveria estar na cadeia.
Front-ends bloqueados
Uma série de eventos decorridos dessa notícia começaram a acontecer, sendo um dos principais os bloqueios ao front-end de diversas plataformas de DeFi.
Eu tenho uma posição aberta no DyDx e, hoje, eu vi essa mensagem [“Você está bloqueado de usar o Protocolo DyDx“]. Meu endereço nunca interagiu com o Tornado Cash, e não sou residente de nenhum país com restrição.
Os parâmetros de risco da API do TRM identificam todas as carteiras que interagiram com os contratos do Tornado Cash após as sanções, mesmo as carteiras de autocustódia. Esses usuários podem ter problemas para acessar o frontend do Aave.
A razão pela qual muitos websites começaram a bloquear alguns endereços é porque muitos deles usam o serviço de uma empresa chamada TRM Labs, que desenvolve produtos que ajudam plataformas de cripto a obedecerem todas as leis dos Estados Unidos. A API do TRM foi carregada com os endereços da lista de sanções da OFAC, causando todas as aplicações de seus clientes a automaticamente bloquearem os endereços listados.
Outra plataforma que atualmente está censurando os endereços da lista é a Uniswap, maior AMM de DeFi. Como muitos usuários apontaram, um grande efeito dessa ação tomada pela Uniswap é uma descrença geral no ecosistema. Se nem o maior projeto consegue se impor contra sanções abusivas, quem dirá projetos menores. Atualmente tem um request de alteração de código para remover essa restrição da UI, ou a Uniswap liberar que outros desenvolvedores publiquem seu front-end sem risco de processo.
Frenesi exagerado
Os bloqueios de front-end já eram esperados, pois os times precisam de tempo para entender com mais detalhes o que pode ser feito. A lista de sanções da OFAC inclui países como a Coréia do Norte, terroristas e outras entidades consideradas de alto risco para os Estados Unidos, então qualquer interação com as entidades dessa lista pode acarretar graves penalidades, multas e até prisão. Por isso é de se esperar suspensões imediatas de algumas operações.
Porém foi-se instaurado um caos um tanto exagerado na comunidade. Até scripts do Google Analytics nos códigos foram apontados como “vazamento de informações para o governo dos Estados Unidos”.
Após um pronunciamento um tanto quanto controverso do CEO da Coinbase, discussões sobre censura a nível de protocolo começaram a pipocar no crypto twitter.
As reações exageradas de pânico da indústria às sanções do Tornado acabarão causando muito mais danos ao Ethereum do que as próprias sanções. Não há absolutamente nenhuma razão para sequer considerar censurar txs no nível do validador. Vocês perderam a noção.
Uma “censura no nível do protocolo ou validador” seria devastador para a proposta de qualquer blockchain com objetivo de decentralização. Implicaria um completo bloqueio de certas carteiras de usar a tecnologia, independentemente de qualquer front-end ou até protocolo. Resumindo: mesmo que você criasse um script que acessasse a blockchain diretamente, sem uso de nenhum site ou front-end, ainda assim sua carteira estaria bloqueada.
Mas como muitos usuários apontaram, um bloqueio assim não pode acontecer. Além de já termos um precedente de diversas carteiras de Bitcoin incluídas na lista de sanções não ter causado esse cenário apocalíptico, o governo dos Estados Unidos só exige que cidadão e residentes americanos “não façam comércio e negócios com as entidades da lista”. Não faz sentido descer as restrições a nível de protocolo.
Eu acredito que os ânimos já estejam se acalmando e, em breve, todo mundo consiga pensar nas ações com mais clareza.
Agora vamos falar de coisa boa! 👇
Merge
Finalmente temos uma data final para o Merge! Depois de um teste com sucesso na última rede, a Goerli, o time de desenvolvimento do Ethereum colocou uma “data” (a data é estimada, o que de fato foi definido foi um parâmetro relacionado á dificuldade da mineração em PoW) que está bem próxima, 15 de Setembro! Existe uma chance de acontecer no dia 14 dependendo do hashrate, então acompanhe a estimativa aqui.
Se você não sabe bem do que estou falando, dê uma olhada na última edição da newsletter onde eu expliquei em detalhes o que é o Merge, e as implicações para a rede do Ethereum.
O que não vai acontecer pós Merge
O Merge é basicamente a transição da forma de consenso da rede do Ethereum de Proof of Work (PoW) para Proof of Stake (PoS), que vai trazer uma economia de energia de cerca de 96%. Mas existem várias falsas concepções que eu gostaria de resumir aqui, pra você ficar preparado para o que vem por aí.
❌ Precisa de 32 ETH para rodar um nó. Na verdade, essa regra só vale para pessoas que queiram produzir bloco e ganhar uma recompensa maior por isso. Se você quiser ajudar a segurança e decentralização da rede, você pode rodar um nó de validação, que não tem necessidade de prender nenhum ETH.
❌ O Merge vai reduzir as taxas no Ethereum. Isso não vai acontecer. A redução de taxas vem principalmente com ações de escalabilidade com layer 2s, sidechains sharding etc.
❌ As transações vão ficar mais rápidas. Como no item acima, isso também é um trabalho para soluções de escalabilidade, e não pro Merge.
❌ Vai ser possível sacar o ETH do stake logo após o Merge. Falso, somente após a próxima atualização (Shanghai) da rede o ETH em stake vai poder ser sacado, provavelmente só em 2023.
❌ Validadores não vão receber nenhum lucro até a atualização de Shanghai. FFalso, logo após o Merge os lucros de MEV e gorjeta serão imediatamente disponibilizados ao validador.
Dicas finais
Estamos chegando em um período de grande especulação sobre um possível fork, altas taxas de empréstimo e outras jogadas que muita gente está tentando fazer. Então quero deixar aqui umas dicas finais para garantir que você não faça nenhuma cagada esses dias, ok? Presta atenção!
Cuidado com scams. Seja super cético quanto a qualquer promessa de lucro com o Merge, compra de moeda ETHPoW ou ETH1, pré-mining (não faz nem sentido isso) ou liquidity mining.
Não exagere na alavancagem (e só mexa com isso se for investidor avançado). É esperada uma volatilidade imensa, mesmo para os parâmetros de cripto, e pode ter certeza que os bots vão atrás de liquidez fácil limpando toda posição alavancada do investidor comum.
Certifique-se que seus tokens estão seguros. Apesar de estar tudo caminhando para dar certo e suas posições em pools serem replicadas, o seguro morreu de velho não é mesmo? Então desfaça suas posições e fique com seus assets bem seguros na sua (hard) wallet.
Não acesse a rede PoW. Se você inventar de vender seus ETHPoW baratinhos, muito provavelmente será possível replicar a mesma transação na rede PoS! Você vai perder dinheiro por ganância!
Tempos incríveis estão chegando, e nas próximas edições eu vou abordar mais sobre as opções pra fazer solo staking, liquid staking e estatísticas sobre stakers na rede. Fique ligado!
Reddit adota mais uma blockchain
🚨 9 armadilhas mais comuns investindo em criptomoedas
Tem certas coisas que a gente só aprende errando. Eu espero que fazer uma gestão saudável de portfólio não seja uma delas e eu consiga fazer você evitar muitas das bobagens que eu e vários dos investidores iniciais fizemos no início da nossa jornada. Então pega essas dicas!
(Adaptado dessa thread, onde reparei que já cometi cada um desses erros).
1. Superestimando seu Alpha
As chances de você realmente ter uma informação exclusiva são baixas. Um grupo de Telegram pago, uma newsletter paga (até essa aqui que é gratuita!) ou seu Youtuber favorito NÃO vão te passar uma informação exclusiva. Até porquê eles ganhariam muito mais dinheiro usando a informação do que cobrando uma assinatura de conteúdo pra te repassar isso.
Uma informação exlcusiva (o famoso “alpha”) significa ter uma vantagem sobre os outros investidores, então não é algo que alguém saia compartilhando por aí!
2. Time não-anônimo
Vimos o recente colapso da blockchain Terra e de gigantes do Venture Capital, todos com seus integrantes não-anônimos. Ter um time real não é garantia nenhuma de competência e legitimidade dos projetos, bem como ter membros anônimos também não significa que é um projeto falso.
A vantagem de se ter um time público é você conseguir pesquisar sobre ele, e não ser somente um atestado de garantia.
3. Achar que você é um dos primeiros
Esse é bem parecido com o item do alpha. A não ser que você seja de uma empresa de investimentos notável, ou o desenvolvedor de um projeto parceiro, você dificilmente é um dos primeiros a saber de um projeto ou moeda nova.
Quando o seu influencer favorito te falar dessa incrível oportunidade, lembra que outras milhares de pessoas consomem o mesmo conteúdo (centenas já seria suficiente) e, assim que vocês entrarem, os investidores que entraram de fato cedo vão despejar a tonelada de moedas deles em você.
4. Confiar em empresas de Venture Capital
É muito comum o investidor intermediário começar a confiar em VCs, que são grupos de investidores especializados em capital de risco. Você pensa que “o trabalho deles é ganhar dinheiro com isso, então se a empresa ficar sem capital eles vão injetar dinheiro”. Isso costuma ser uma aposta mais assertiva no mercado tradicional, onde existem diversos mecanismos que protegem uma ação de ir pra 0.
Porém isso não existe em cripto. Um protocolo pode ir de bilhões a 0 em dias, e não tem dinheiro de grupos de investimento que consiga cobrir isso (vide Three Arrows Capital).
5. Confiar em código auditado
Quando fazendo sua pesquisa sobre um protocolo esse item deve ser obrigatório. Mas a existência de auditorias de código não garante a segurança do sistema. Você pode pensar que o hack em um código auditado é uma raridade, ou muito azar, mas a verdade é que não. Olhe essa lista do site Rekt, que registra todos os hacks já ocorridos.
Além dos métodos de hack estarem evoluindo rápido (a motivação é muito grande), a constante alteração de código faz com que muitos protocolos não submitam seus códigos novamente para auditoria, o que faz com que alterações introduzam falhas no sistema.
6. O gráfico está mostrando que vai subir
Gente, análise técnica existe sim, mas é MUITO mais difícil que parece. É um estudo de tendência baseado em psicologia e estatística e, novamente, é uma técnica que explora especulação e vantagem sobre a maioria. Ou seja, você precisa ser a minoria da minoria pra tirar vantagem da maioria.
Se você inventar de mexer com análise gráfica vai passar por períodos de grandes perdas com toda a certeza.
7. Seguir opinião de influencers
Existem influencers e influencers. Uma pessoa pode ser influente por ser o CEO de um projeto de sucesso, ou ser um desenvolvedor respeitado, ou até um investidor que já passou por muita coisa e se provou ter uma boa gestão de portfólio. Essas são as personalidades das quais você deve se cercar.
Porém no mundo dos influenciadores digitais existem muitos que ganham fama copiando conteúdo de outros, comprando seguidores ou simplesmente produzindo um ou outro conteúdo viral. A chance é grande desses influenciadores usarem da sua fama para o famoso “pump and dump”, que é a manipulação artificial do preço de uma moeda, principalmente as com baixíssimo volume. Cuidado!
8. Viés de Confirmação
Uma vez que você se interessou por um projeto ou até mesmo já investiu, tem grandes chances de cair na armadilha do viés de confirmação. Você fica praticamente cego a toda e qualquer crítica sobre a empresa ou moeda, e só enxerga os elogios. Se force sempre a procurar os problemas!
Seja neurado por problemas e falhas nesse mundo de cripto. Fuja dos servers do Discord do próprio projeto onde os moderadores podem apagar críticas e pagar pessoas pra ficar elogiando. Procure replies no Twitter e posts no Reddit.
9. Complexo de especialista: O efeito Dunning–Kruger
Sabe quando você acaba de começar a estudar sobre um assunto, passa umas 3 horas assistindo a tutoriais e podcasts e logo já acha que tá sabendo de tudo? Isso tem nome: efeito Dunning–Kruger. É a dificuldade que temos de mensurar nosso próprio conhecimento, e achar que sabemos mais do que realmente sabemos.
Pesquisadores e cientistas que se dedicam anos a determinada área vão se especializando cada vez mais, pois a área de conhecimento é tão complexa que é impossível abordar tudo. É o “quanto mais eu aprendo mais percebo que nada sei”.
E no mundo dos investimentos isso é muito comum, simplesmente pois viemos de uma estrutura de educação onde nada é ensinado sobre finanças pessoais. Na cripto é pior ainda, pois a comunidade tem o péssimo hábito de achar que os dinossauros das finanças tradicionais são amebas que ganharam carreira na época do ábaco e programação em cartão furado.
Um grande erro. A história se repete, ciclicamente. Aprenda com os mais velhos.
O que fazer? Tenha um pensamento mais probabilístico
A verdade é que, quando avaliando item a item os requisitos que um projeto deve ter para receber seu investimento ou não, o certo não é dar um peso “certo/errado” a cada item. Cada requisito (time público, código auditado etc) é uma curva probabilística, e o risco vai diminuindo á medida que você mergulha mais fundo na análise de cada um deles.
Ex: o time é público? Ok, quem é cada um deles? O que eles já fizeram no passado? Existe alguma investigação em andamento? Quanto mais você pesquisa, menor é seu risco associado áquele item específico.
💡 Gostou dessas dicas? Então compartilhe com aquele seu primo que perdeu 90% do portfólio nessa última queda.
💭 Conclusão
Essa edição pode ser que tenha ficado caótica, com abordagens técnicas, notícias e dicas de investimento, mas o mundo de cripto é assim mesmo e todos esses assuntos fazem parte da minha rotina!
Eu ainda eliminei uma sessão inteira sobre influencers brasileiros no universo de NFTs e metaverso, senão essa edição viraria um livro, mas se inscreva agora pois vou abordar com detalhes esse assunto na próxima! Spoiler: falaremos de Felipe Neto e Sabrina Sato 👀